junho 16, 2011

Quem me dera...


Ah, quem me dera tivesse aprendido a voar!
É verdade! Nos acostumamos com tudo nessa vida, inclusive, a ficar em uma gaiola.
No começo, nem percebi que o espaço era pequeno, simplesmente procurei um cantinho e me acomodei por ali mesmo.
Entendi que aquele era meu mundo.
Aos poucos fui crescendo, a gaiola foi ficando apertada e, como sempre fiz, dei um jeito de permanecer onde e como estava.
Afinal, eu me acostumara com aquele espaço e, como grandes mudanças requerem muito esforço, fui ficando onde eu já me habituara, na gaiola.
Continuei a crescer. Desejava desesperadamente voar para grandes espaços, descobrir novos horizontes, vencer obstáculos e enfrentar desafios.
A porta permanecia sempre aberta. E eu, por centenas de vezes, cheguei até ela, olhei pra fora, coloquei um pé, depois o outro e pude sentir a brisa fresca em meu rosto. Tudo me pareceu tão grande, muito além de onde eu jamais havia ido, tive medo. Então, voltei para dentro da gaiola e comecei a me questionar:
O que eu perderia saindo e descobrindo que é possível sim, usar minhas asas e alçar vôos além da gaiola? Poderia com certeza fazer minhas descobertas e depois voltar, afinal, meu lugar na gaiola estava garantido.
Ah, quem de dera o tempo parasse, e eu, tal qual a “Bela Adormecida”, depois de um sono profundo, acordasse para a vida e a redescobrice.
Gosto de estar na minha gaiola, porém, sei que lá fora, as possibilidades são maiores e estão a minha espera, quero descobri-las e vivê-las.
Antes eu costumava cantar, creio que era para me ouvir e ter a certeza de que estava viva. Hoje já não canto mais, porém, sei que ainda estou viva.
Gostar de estar na gaiola, não significa ser covarde o suficiente para não sair dela. Enfrentar novos desafios e o desconhecido é que me faz pensar em permanecer.
Aqui é meu espaço, embora pequeno, eu o conheço de cor e salteado, e lá fora?
Bem, lá fora?
Só saindo e vivenciando o que me espera é que saberei.
Não, não vou esperar pelo príncipe encantado, já acordei, só estou me espreguiçando.
Vou sair e deixar um bilhete pendurado no trinco da gaiola, caso alguém sinta a minha falta e venha a me procurar, dizendo mais ou menos assim:
-Meus queridos, fui passear e devo me demorar, como vocês sempre o fazem.
Não me esperem para o jantar, (que jantar?).
E, não fiquem preocupados, posso cuidar de mim, afinal, cuidei de vocês anos a fio.
PT, saudações,
Mãe
Cida Mascaro



2 comentários:

Mary Miranda disse...

Surpreendente o final!!!!


Cida, gostei demais do texto, mostrando-nos que as asas estão no lugar devido, só nos falta impulso para alçarmos vôo...
Muitas vezes abrimos mão de nossa liberdade, em prol do bem-estar alheio, esquecendo-nos, tristemente, que também fazmos parte desse contexto chamado vida, e nunca é tarde par acordarmos!

Querida, linda reflexão, que só tenho a agradecer por ter trazido a nós!

Um forte abraço,
Mary:)

Irene disse...

Cida querida, que grata surpresa seu blog tão bem elaborado, seu texto tão emotivo e suas receitas deliciosas. Parabens.
bjs,
Irene


by requeri/2011